CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências: como funciona?

Nicholas Rodrigues
April 28, 2025

A conquista da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é um marco de independência e autonomia para qualquer pessoa. No Brasil, a legislação garante o direito de dirigir a pessoas com deficiência (PCD), desde que sejam consideradas aptas em avaliações específicas e, quando necessário, utilizem veículos adaptados.

Tirar a CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências é um processo que envolve algumas etapas diferenciadas, como exames médicos especializados e, em certos casos, adaptações tanto na formação quanto nos veículos. Com a devida orientação e preparação, é possível alcançar esse objetivo e garantir uma condução segura e dentro das normas.

Neste artigo, vamos explicar como funciona o processo de habilitação para pessoas com baixa visão e outras deficiências, quais são os requisitos, adaptações possíveis, direitos garantidos por lei e dicas práticas para quem vai iniciar esse caminho. 

CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências: é possível tirar?

Sim, é possível! Pessoas com baixa visão ou outras deficiências podem obter a Carteira Nacional de Habilitação no Brasil, desde que atendam aos critérios estabelecidos pela legislação de trânsito e comprovem capacidade de dirigir com segurança. A lei brasileira é inclusiva e prevê mecanismos específicos para garantir que a deficiência não seja, por si só, um impedimento ao direito de dirigir.

A principal regulamentação sobre o tema é o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), complementado por resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), como a Resolução nº 425/2012, que trata da avaliação de aptidão física e mental para a condução de veículos. 

Essas normas estabelecem que a aptidão deve ser avaliada de forma individualizada, levando em consideração o tipo e grau da deficiência.

Quem tem baixa visão — caracterizada pela redução significativa da capacidade visual, mesmo com o uso de óculos ou lentes — pode ser considerado apto a dirigir, desde que consiga atender aos requisitos mínimos de acuidade visual exigidos para cada categoria de CNH. Quando necessário, são prescritas adaptações no veículo ou o uso obrigatório de lentes corretivas.

Além da baixa visão, pessoas com outras deficiências físicas, auditivas ou motoras também têm direito à CNH Especial, podendo contar com adaptações no processo de formação, nos exames e nos próprios veículos.

É importante destacar que:

  • Cada caso é analisado individualmente por profissionais credenciados.

Em alguns casos, a validade da CNH pode ser reduzida para garantir reavaliações periódicas da aptidão.

Portanto, a obtenção da CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências é, além de um direito, um processo respaldado em normas que priorizam a segurança no trânsito e a inclusão social.

Quem pode solicitar a CNH Especial para PCDs

A CNH Especial para Pessoas com Deficiência (PCDs) é destinada a quem apresenta limitações físicas, sensoriais ou motoras que, mesmo com a condição, conseguem demonstrar aptidão para conduzir veículos de forma segura. 

Ter uma deficiência não impede, por si só, a obtenção da CNH — o que determina a possibilidade é a capacidade de dirigir com segurança, eventualmente com adaptações.

Entre os perfis que podem solicitar a CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências, estão:

Pessoas com baixa visão: desde que atinjam a acuidade visual mínima exigida para a condução, com ou sem uso de lentes corretivas.

Amputados ou com membros com má-formação congênita: que possam conduzir veículos adaptados às suas necessidades físicas.

Pessoas com sequelas neurológicas: como paralisias parciais, desde que os movimentos necessários para a direção estejam preservados ou compensados com adaptações.

Pessoas com deficiência auditiva: são aptas à obtenção da CNH, com anotações específicas sobre a condição, mas sem necessidade de adaptação veicular, salvo situações específicas.

Indivíduos com doenças progressivas controladas: em casos de condições como esclerose múltipla em estágio inicial, dependendo da avaliação médica.

Avaliação da capacidade de direção

O fator determinante para a concessão da CNH Especial é a avaliação da capacidade física e mental de dirigir com segurança. Essa análise é feita por médicos credenciados pelo Detran, podendo envolver:

  • Exames médicos específicos para a deficiência apresentada.

  • Testes de habilidades práticas, utilizando veículos adaptados conforme a necessidade.

  • Avaliação psicológica, como parte do processo de primeira habilitação.

Cada situação é tratada de maneira individualizada. Caso a deficiência permita a direção segura, mesmo com adaptações no veículo ou no processo de formação, o candidato é considerado apto.

De acordo com a Resolução 425, para os casos de baixa visão os critérios seguem a seguinte descrição conforme a categoria do motorista

Para candidatos à direção de veículos das categorias C, D e E:

  • acuidade visual central igual ou superior a 20/30 (equivalente a 66%) em cada um dos olhos ou igual ou superior a 20/30 (equivalente a 66%) em um olho e igual ou superior a 20/40 (equivalente a 50%) no outro, com visão binocular mínima de 20/25 (equivalente a 80%);
  • visão periférica na isóptera horizontal igual ou superior a 120º em cada um dos olhos.

Para candidatos à ACC e à direção de veículos das categorias A e B:

  • acuidade visual central igual ou superior a 20/40 (equivalente a 50%) em cada um dos olhos ou igual ou superior a 20/30 (equivalente a 66%) em um dos olhos, com pelo menos percepção luminosa (PL) no outro;
  • visão periférica na isóptera horizontal igual ou superior a 60º em cada um dos olhos ou igual ou superior a 120º em um olho.

Segundo a regulamentação, candidatos sem percepção luminosa (SPL) em um dos olhos poderão ser aprovados na ACC e nas categorias A e B, desde que observados os seguintes parâmetros e ressalvas:

  • acuidade visual central igual ou superior a 20/30 (equivalente a 66%);
  • visão periférica na isóptera horizontal igual ou superior a 120º;
  • decorridos, no mínimo, noventa dias da perda da visão, deverá o laudo médico indicar o uso de capacete de segurança com viseira protetora, sem limitação de campo visual.

Importante:

Se o candidato for considerado inapto em uma primeira avaliação, é possível solicitar a avaliação por uma junta médica especializada — garantindo o direito à revisão do parecer inicial.

Processo para obter a CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências

O processo para tirar a CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências é semelhante ao da habilitação convencional, mas com algumas etapas específicas voltadas à avaliação da condição de saúde e às possíveis necessidades de adaptação. Veja o passo a passo:

1. Agendamento no Detran e abertura do processo

O primeiro passo é procurar o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) da sua região para iniciar o processo de primeira habilitação ou alteração para CNH Especial. Durante o cadastro, o candidato deve informar sua condição de deficiência.

2. Exames médicos especializados

O candidato será direcionado para realizar exames médicos obrigatórios, que são mais detalhados no caso de PCDs:

  • Avaliação de acuidade visual: realizada por oftalmologista credenciado.
  • Avaliação clínica geral: para verificar a capacidade física de dirigir.
  • Avaliação psicológica: obrigatória para todos os candidatos.

Se necessário, o Detran poderá encaminhar o candidato para uma junta médica especializada, que irá avaliar se a deficiência compromete a capacidade de direção e se há necessidade de adaptações veiculares.

3. Curso teórico de formação de condutores

Após aprovação nos exames médicos, o candidato deverá fazer o curso teórico em uma autoescola credenciada, cumprindo a carga horária obrigatória.

Importante: algumas autoescolas possuem instrutores preparados para atender pessoas com deficiência.

O conteúdo teórico é o mesmo para todos os candidatos.

4. Exame teórico

Após o curso, o candidato realiza a prova teórica, que pode ser adaptada se houver necessidade (ex: prova em braile, auxílio de intérprete de Libras, prova oral, etc.).

5. Aulas práticas de direção veicular

O candidato faz as aulas práticas em veículos adaptados, conforme as necessidades identificadas nos exames médicos:

Para baixa visão, pode haver exigência de lentes corretivas ou adaptações específicas no veículo (espelhos adicionais, sistemas de alerta, etc.).

Para deficiências físicas, o veículo pode ter controle manual de freio e acelerador, direção hidráulica, câmbio automático, entre outros.

Importante: as autoescolas devem disponibilizar veículos adaptados para garantir a acessibilidade.

6. Exame prático de direção

O exame prático será realizado obrigatoriamente no veículo adaptado, caso haja exigência. A avaliação segue os mesmos critérios de todos os candidatos, respeitando as limitações da deficiência.

Se aprovado, o candidato recebe a CNH Especial, com anotações específicas das restrições ou adaptações necessárias.

Adaptações necessárias no veículo

Para garantir a segurança do condutor, dos passageiros e de todos no trânsito, o processo de obtenção da CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências pode exigir a realização de adaptações específicas no veículo. 

Essas modificações permitem que o condutor conduza com conforto, autonomia e segurança, respeitando suas limitações e potencialidades.

As adaptações variam de acordo com o tipo de deficiência apresentada e são determinadas com base nas avaliações médicas realizadas durante o processo de habilitação. Confira exemplos de adaptações mais comuns:

Exemplos de adaptações para baixa visão

Para pessoas com baixa visão, o objetivo das adaptações é maximizar a percepção visual do ambiente e garantir maior segurança. As principais modificações recomendadas incluem:

  • Uso obrigatório de lentes corretivas: óculos ou lentes de contato específicas, prescritas para corrigir o grau de acuidade visual necessário para dirigir.

  • Retrovisores ampliados: espelhos maiores ou adicionais que ampliam o campo de visão lateral e traseira, facilitando a percepção de veículos e obstáculos.

  • Sistemas de alerta sonoro: dispositivos que emitem sinais sonoros em situações críticas, como aproximação de obstáculos ou mudanças involuntárias de faixa (alerta de permanência de faixa).

Essas adaptações ajudam o condutor a superar limitações visuais e a reagir adequadamente às condições do trânsito.

Exemplos de adaptações para outras deficiências

Para pessoas com deficiências físicas ou motoras, as adaptações buscam compensar a limitação de movimentos, garantindo controle total sobre o veículo. Exemplos comuns incluem:

  • Controle manual de acelerador e freio: substitui o uso dos pedais por alavancas manuais, permitindo que o condutor opere o veículo com as mãos.

  • Câmbio automático: dispensa a necessidade de trocar marchas manualmente, o que facilita a condução para quem tem limitações motoras.

  • Direção hidráulica especial ou elétrica: reduz o esforço necessário para manobrar o volante, sendo essencial para quem tem pouca força nos braços.

  • Comandos no volante: botões que acionam faróis, setas e limpadores de para-brisa, adaptados para facilitar o acesso.

  • Pedais invertidos ou reposicionados: para condutores que utilizam o pé esquerdo em vez do direito ou que precisam de pedais adaptados.

Essas adaptações são fundamentais para garantir a dirigibilidade segura e adequada às condições de cada motorista.

Obrigatoriedade de registrar adaptações na CNH e no CRLV do veículo

Tanto as adaptações realizadas quanto as condições de condução determinadas pela avaliação médica precisam ser formalmente registradas:

Na CNH Especial: constarão observações específicas, como a necessidade do uso de lentes corretivas ou de direção veicular com adaptações. Essas anotações são feitas através de códigos padronizados (ex: "Obrigatório o uso de lentes corretoras", "Veículo com transmissão automática", etc.).

No CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo): o documento do veículo também deve indicar as adaptações realizadas. Isso é importante tanto para a fiscalização quanto para manter a regularização do veículo perante o Detran.

Circular sem registrar as adaptações obrigatórias pode resultar em multa, apreensão do veículo e perda da validade da CNH Especial, além de colocar a segurança do condutor e de terceiros em risco.

Portanto, é fundamental que o processo de adaptação seja feito de forma criteriosa e devidamente formalizada junto aos órgãos de trânsito.

Principais direitos de quem possui CNH Especial

Obter a CNH para quem tem baixa visão e outras deficiências não significa apenas ter a possibilidade de dirigir de forma legal e segura. A legislação brasileira também assegura uma série de direitos e benefícios que visam promover a inclusão, reduzir desigualdades e garantir melhores condições de mobilidade e acessibilidade para pessoas com deficiência.

Conheça os principais direitos de quem possui CNH Especial:

Isenção de impostos na compra de veículo

Pessoas habilitadas com CNH Especial podem ter acesso à isenção de diversos tributos na aquisição de veículos novos, o que torna a compra mais acessível:

  • IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores): em muitos estados, pessoas com deficiência são isentas do pagamento anual do IPVA, reduzindo significativamente o custo de manutenção do veículo.

  • IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): o desconto é aplicado diretamente na compra do carro, o que reduz o valor final do veículo.

  • IOF (Imposto sobre Operações Financeiras): em financiamentos de veículos, pessoas com deficiência têm direito à isenção deste imposto.

  • ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços): além da isenção de IPI, o ICMS também pode ser abatido em compras de veículos dentro de determinados limites de valor e características técnicas.

Importante: Cada benefício exige processos específicos de solicitação e comprovação junto à Receita Federal e à Secretaria da Fazenda Estadual.

Prioridade em atendimentos relacionados ao trânsito

Pessoas com deficiência que possuem CNH Especial têm direito a prioridade no atendimento em serviços públicos e privados relacionados ao trânsito, como:

  • Atendimento prioritário em agências do Detran.
  • Preferência no agendamento de exames médicos e práticos de direção.
  • Atendimento preferencial em processos de emissão, renovação ou alteração da CNH.

Essa prioridade é regulamentada por leis de acessibilidade e normas estaduais.

Direito a vagas especiais em estacionamentos

Outro direito garantido é o uso de vagas reservadas para pessoas com deficiência em estacionamentos públicos e privados. Para usufruir desse direito, é necessário:

  • Ter a CNH Especial.
  • Solicitar o cartão de estacionamento para PCD, emitido pela autoridade municipal de trânsito.
  • Estar com o cartão visível no painel do veículo durante o uso da vaga.

As vagas especiais são dimensionadas para oferecer maior espaço e comodidade no embarque e desembarque, respeitando normas de acessibilidade.

Programas de habilitação social em alguns estados

Em diversas unidades da federação, existem programas específicos de habilitação social voltados para pessoas com deficiência de baixa renda. Esses programas oferecem:

  • Gratuidade no processo de obtenção da CNH: incluindo exames médicos, curso teórico, aulas práticas e taxas do Detran.
  • Apoio na adaptação veicular: em alguns casos, o programa cobre parte dos custos de adaptação.
  • Acesso a programas de inclusão no trânsito: com suporte para formação de condutores com deficiência.

Atenção: Cada estado define seus próprios critérios de elegibilidade, normalmente baseados em renda familiar, tipo de deficiência e inscrição em programas sociais.

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